*Leonardo
Torres
O ano de 2021 ainda será marcado pela
COVID-19, principalmente, no Brasil. Já em janeiro, os números de casos de
coronavírus voltaram a crescer enormemente. A principal hipótese do aumento de
casos é a banalização do vírus, o que leva a aglomerações, encontros, etc.. Se
isso for correto, o maior desafio do brasileiro ainda está por vir: o Carnaval.
É evidente que a vacinação não será
rápida devido ao número da população brasileira; e a proibição do Governo pode
não impedir que os foliões saiam às ruas. Isso significa que os números de
casos e mortes podem aumentar.
A proibição e/ou o adiamento do
Carnaval 2021 pelo Governo podem não ser respeitados, pois se lançarmos o olhar
na História, dois adiamentos já foram estipulados: em 1892 e 1912. E a
população, por não acatar os pedidos dos governantes, acabou por realizar duas
vezes o carnaval nesses anos.
Apesar dessas datas não estarem
relacionadas a nenhuma pandemia, na Europa Medieval o carnaval que se seguiu
após a epidemia da peste bubônica foi um dos maiores já relatados. Isso
aconteceu pois, culturalmente, o carnaval é uma festividade de expiação.
Livramos todas as tensões sociais nele. Já em meio à peste e contagiados pelo
medo coletivo, existem diversos relatos de grandes e ininterruptas aglomerações
e festas, como as famosas danças de São Vito ou danças da morte.
O caso mais famoso é o de Estrasburgo,
na França. De acordo com os estudos já realizados e relatos da época, quem
começava a dançar não conseguia parar. Alguns autores denominam esses casos de
histeria coletiva; já eu prefiro denominá-lo de Contágio Psíquico, tema do
livro que lançarei este ano.
O fato é que ali houve uma expiação
coletiva do medo da morte que a população da época enfrentava. Podemos entender
esta expiação do medo da morte como um fenômeno coletivo contrafóbico da
psique, ou seja, quando o indivíduo vai ao encontro de seu medo para que possa
se livrar dele - um livramento literal. Nesse caso, muitos indivíduos encontram
a morte literal. Por isso, é necessário simbolizar.
Apesar de parecer uma época longínqua,
não podemos negligenciar a natureza psíquica humana. Vimos no ano de 2020
muitos indivíduos seguindo esse padrão contrafóbico e não praticando nenhuma
medida de higiene e segurança contra a COVID-19. Presenciamos também os furtos
de papel higiênico e um aumento considerável do consumo de benzodiazepínicos
pela população, indicando que o medo está presente, apesar do vírus banalizado.
O fato é que todos estamos
psicologicamente exaustos da tensão gerada pela COVID-19. Resta aguardar e
tentar ainda seguir com consciência, evitando qualquer tipo de aglomerações,
especialmente a do Carnaval, para que este não seja marcado também pela
COVID-19 como o maior e pior carnaval do Brasil.
*Dr.
Leonardo Torres, 30 anos, psicoterapeuta junguiano e palestrante.
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