quarta-feira, 15 de abril de 2020

O ENCANTAMENTO DE AVENOR LOPES

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Edson Tavares

Quando nasci, Avenor tinha 15 anos de idade. Nascia também nesse ano de 1963 a famosa Padaria Flórida, de Antonio Lopes do Nascimento, que teve, entre os componentes de seu primeiro quadro de funcionários o “espigão” filho do tocador de oito-baixos Rafael Lopes. Avenor era da família de Antonio Saturnino, e se destacava pela sua gentileza no atendimento aos fregueses, como me contou certa vez Avani Lopes, essa menininha exibida, aí na frente do balcão.

Dois anos ficou na padaria, porque, em 1965, o radialista Ivan Bulhões, buscando talentos na região para compor uma caravana de artistas regionais, soube de um velho tocador de fole de Santa Cruz do Capibaribe e seu filho, que começava a se aventurar na sanfona. O convite foi feito e aceito: Avenor se mudou para Caruaru, cidade que adotou como sua segunda casa.

A amizade entre Avenor e Ivan atravessou os anos. O animador o chamava de “Sanfoneiro Fiel”. De fato, onde havia um show de Ivan Bulhões, lá estava Avenor Lopes, puxando sua sanfona e fazendo a festa com o “rei do forró” do rádio caruaruense. Acompanhou também grandes estrelas de nossa música, desde Luiz Gonzaga, passando por Ary Lobo, Jackson do Pandeiro, Azulão, Jorge de Altinho...

Juntamente com a Carvana, gravou três LPs. A segurança com que arrancava os acordes da sanfona encantava aos ouvintes e dançarinos. Fora influenciado e aprendera direitinho com o velho Rafael, que também fez parte da Carvana de Ivan Bulhões.
No apagar das luzes do Jornal Capibaribe, em 1987, consegui reunir a Caravana para uma entrevista coletiva “às avessas”: o jornalista era um só, os entrevistados, muitos. Até o Zé Nilton estava presente. Avenor reafirmou sua história e mostrou-se grato ao amigo Ivan Bulhões, por tudo que o radialista fizera por ele e pela sua carreira de sanfoneiro. Infelizmente, a edição para a qual havia sido produzida a reportagem jamais foi publicada.

Em 1971, Avenor Lopes casou-se com Nanci Batista, com quem teve seis filhos. Em 1995, reuniu filhos e noras e criou a banda Topazill, que chegou a gravar três CDs.

Músico consciente de seus direitos e responsabilidades, Avenor Lopes, em 1998, ajudou a criar e foi vice-presidente da Associação dos Cantores, Músicos e Forrozeiros de Caruaru. A cidade que o adotou como filho também o homenageou, no São João de 2011, dedicando a ele as festas juninas daquele ano.

Muito querido pela classe artística e pelos amigos, Avenor era presença garantida todos os dias, na Rua da Matriz, em Caruaru, em torno da estátua de Nelson Barbalho ou nos degraus do Palácio do Bispo. Também podia ser encontrado na calçada de sua casa, no bairro das Rendeiras, em agradáveis palestras com os vizinhos e amigos.

Um acidente vascular cerebral, ocorrido no dia 2 de abril, levou-o ao Hospital Mestre Vitalino. Recebeu alta, voltou para casa, com parte do corpo paralisado e sem falar. No domingo, 12, não resistiu mais: pediu licença à vida e sumiu no meio das estrelas.

Um comentário:

  1. Saudades eternas, amigo Avenor Lopes! Trabalhamos juntos na Padaria Flórida, onde tiramos esta foto. Sou esse garoto do meio, com a farda do Ginásio Santa Cruz, entre Damiana e e Zezinho de Zefa Roque. Lembro-me do Trio de Forró formado por Avenor (Sanfona), Zezinho (Salvo engano, Cantor e Zabumbeiro) e no triângulo, não me lembro muito bem, mas acho que era Tonho de Dulce. Eu gostava muito de assistir aos ensaios do grupo, na casa de D. Zefa, mãe de Zezinho, na Rua Nova, encostada ao Hotel de D. Maria Duda. Isso tem mais ou menos 55 anos. Aprendi a gostar de forró pé-de-serra com eles. Foi uma época muito boa. Dessa foto, apenas eu, Zé Preto e Damiana, penso eu, estamos vivos. Todos os demais, lamentavelmente, já nos deixaram. Sinto muitas saudades de todos(as).

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