O desprendimento total de
bens materiais demonstrava a grandeza espiritual do religioso.
Para os contemporâneos e admiradores do legado
do padre José Pereira de Assunção (1905 - 1983), carinhosamente conhecido por
padre Zuzinha, o mês de outubro traz sempre a memória o dia cinco em que a
cidade de Santa Cruz do Capibaribe, no agreste Setentrional de Pernambuco,
silenciou as palavras e ecoou o pranto de adeus. A morte do sacerdote defensor
dos pobres e humildes, que se tornou prefeito, presidente de sociedade musical
e esportiva, marcava o início de uma devoção popular que ultrapassa o tempo e
ganha cada vez mais fiéis.
Tendo como ponto de peregrinação, o túmulo do
religioso no cemitério São Judas Tadeu, na Terra das Gameleiras, devotos de diversas
cidades da região visitam o local para fazer orações, pedir alguma graça ou
cura de seus males. “Relatos de milagres e graças alcançadas por intercessão do
padre Zuzinha são narrados por fiéis que ao ficarem curados, retornam ao túmulo
para pagar as promessas. Muitos deles trazem objetos e fotos que simbolizam
milagres alcançados,” conta o pesquisador Marivaldo Andrade.
Paralelo a devoção popular, a igreja Católica,
em Santa Cruz, mantém viva a memória do sacerdote que testemunhava o amor a
Deus e ao próximo tanto no altar como na comunidade. O feriado municipal de
cinco de outubro revive nas ondas sonoras do rádio, na recitação do terço de
cada devoto, na celebração de Missa campal das 5h da tarde e principalmente na
peregrinação ao túmulo a emoção daquele dia em que o sentimento de tristeza
invadiu o coração da população e a conhecida rua Grande pareceu pequena para
acolher tantos gestos de amor e gratidão ao padre dos pobres e humildes.
Seja como líder religioso ou chefe do Executivo,
Padre Zuzinha vivenciava o desprendimento total de bens materiais, acolhia às
necessidades do povo, anunciava o Reino de Deus e conduzia o destino do
município com a mesma intensidade com que defendia os direitos dos mais
vulnerais. “Na memória de todos que conviveram com ele, está a lembrança do
socorro, do auxílio, dos exemplos, dos testemunhos, dos conselhos, do
acolhimento, das ajudas nas horas mais difíceis - os quais aconteceram fora de
holofotes. Para ele bastava que aquele que lhe procurasse tivesse seu sofrimento
diminuído ou seu problema resolvido com uma ação concreta,” pontua a professora
Clécia Lira.
JOSÉ PEREIRA DE ASSUNÇÃO
Nasceu em 07 de abril de 1905, no Sítio Várzea
Grande, na zona rural de Taquaritinga do Norte – PE. Aos 16 anos, entrou para o
Seminário, de Olinda. Em 1933, fora ordenado padre pelo Bispo Dom Ricardo de
Carvalho Vilela. Exerceu o sacerdócio, como pároco em Nazaré da Mata, Surubim,
Goiana e Santa Cruz do Capibaribe.
Nesta última cidade, foi eleito prefeito por
duas gestões (1968 - 1972 e 1977 - 1982), tornou-se o primeiro presidente
benemérito da Sociedade Esportiva Ypiranga Futebol Clube e também presidiu a
Sociedade Musical Novo Século. No dia 07 de janeiro de 1968 foi vítima de um
atentado, após a celebração da Santa Missa, na Vila do Pará; aquele atentado à
bala, não o impedirá de assumir, mesmo que de muletas, a Prefeitura.
Padre Zuzinha faleceu em 05 de outubro de 1983,
com 78 anos, em Caruaru. Seu velório aconteceu de fronte a igreja Matriz do
Senhor Bom Jesus dos Aflitos sob a sombra das gameleiras. Bispo, padres,
políticos, autoridades e a presença maciça da população desolada acompanharam a
cerimônia fúnebre que parou a cidade das Confecções.
Nos fragmentos da história há quem afirme que o
padre soube também calar na dor, silenciar suas angústias, perdoar a quem lhe
ofendeu para que a paz sempre reinasse. Sua única dificuldade, e talvez falha,
foi o de não saber dizer não, e isso foi, dialeticamente, seu grande
diferencial humano, religioso e político.
Colaboração
de Clécia Lira.
Fotos: José Romildo e Domínio Público
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